O concreto é o segundo material mais utilizado em todo o planeta, perdendo apenas para água. Esta é uma informação bem impactante, mas você sabia como tudo isso está afetando negativamente o nosso planeta? A produção do cimento, principal componente do concreto, é responsável por gerar uma grande quantidade de CO2 na atmosfera, sendo causadora de 7% de toda a emissão global. Por conta disso, muitas discussões e congressos internacionais abordam o tema, contando com a colaboração de todos os países emissores bem como de pesquisadores e membros da indústria da construção civil, visando encontrar um caminho mais sustentável para o futuro do concreto.
Resíduos
Conforme a sociedade está se desenvolvendo e as cidades ampliam suas dimensões, a geração de resíduos cresce na mesma proporção. A variedade de materiais que não possuem destinação correta, e muitas vezes são descartados no próprio meio ambiente, é imensa. Por razão disso, os países estão buscando várias soluções para combater ou modificar esse triste cenário. Uma das ideias que vêm crescendo e apresentando grande êxito é o coprocessamento, que utiliza de resíduos urbanos como componentes alternativos para a produção do cimento.
Bactérias em ação
Além dessa maneira, pesquisadores desenvolveram também um concreto especial, o qual possui microrganismos em sua composição, conseguindo ter a sua própria recuperação estrutural. A partir do momento que algum dos componentes da construção apresente alguma falha, como rachaduras, por exemplo, os bacilos entram em ação, se auto reconstruindo. Essa propriedade aumenta a resistência mecânica do concreto e se mostra extremamente eficiente para evitar patologias estruturais, aumentando significativamente a segurança da estrutura e sua durabilidade.
Concreto sustentável
Diante do exposto, surge a dúvida: Como encaixar o tema da sustentabilidade em um processo tão agressivo quanto o da obtenção do cimento? Muitas vezes o concreto é o primeiro material considerado hegemônico e sem possibilidade de substituição, fato que se concretiza pela difundida cultura de uso desse material em todas as obras de construção civil. Todas as suas propriedades, como a boa resistência mecânica e variabilidade de aplicações, dificulta cogitarmos uma modificação desse produto tão convencional. Todavia, e se no futuro conseguíssemos dar um caráter mais ecológico para este concreto? E se substituíssemos alguns de seus componentes por um material já descartado e que não apresenta mais “nenhuma” funcionalidade? Tudo isso já pode ser feito, hoje, com o concreto sustentável!
O concreto sustentável brasileiro foi criado no Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da USP, pelo engenheiro elétrico e professor Dr. Javier Mazariegos Pablos. Na constituição deste concreto são adicionados resíduos variáveis, como rejeitos sólidos industriais. O bloco de concreto comum leva: areia, cimento, água e brita. O concreto sustentável é capaz de economizar 100% desses recursos naturais, sendo a maior parte da areia natural é substituída por areia de fundição (areia usada nos moldes na produção de peças metálicas), a brita substituída por escória de aciaria. Esses materiais são doados pelas fábricas que mensalmente descartam toneladas em aterros. Pelo fato de requisitarem um alto valor para serem descartados corretamente, são doados, então, para as cimenteiras, economizando milhares de reais todos os meses e gerando lucro para ambas as partes.
Como é uma descoberta recente, o concreto sustentável não teve tempo suficiente para ser estudado, testado e inserido na sociedade, logo, este concreto não se iguala ao convencional em questões estruturais. A principal indicação deste material é na parte de pavimentação, guias, calçadas e contrapisos. Economicamente se torna mais viável por sua matéria prima já estar disponível e se incorporar facilmente na fabricação convencional, barateando o processo.
Concreto vivo
O mais animador, ainda, é a produção do bioconcreto, um feito extraordinário e inovador que nos dá um olhar mais direto para o futuro do concreto na construção civil. Ela é possível através da mistura do próprio produto convencional às colônias de bactérias. Estes organismos são muito resistentes e estão bem habituados às condições extremas de temperatura, salinidade e até mesmo à escassez de oxigênio. Esta associação foi muito bem sucedida e pode ser utilizada em uma variedade tão grande de estruturas dentro do mercado que é reconhecida é muito divulgada como “concreto vivo”.
Para que todo o processo seja possível são inseridas, também, cápsulas biodegradáveis de lactato de cálcio, que são alimentos para as bactérias, alocados em suas proximidades de forma estratégica, considerando que quando surgirem fissuras no concreto, há a entrada de umidade e do oxigênio e as bactérias serão ativadas a partir do contato com eles. Em questão de um curto período de tempo os organismos se multiplicam e, após consumir toda a água e lactato, a formação do composto calcário surgirá e as inconformidades serão solucionadas de dentro para fora, reparando as irregularidades.
Dessa forma, o bioconcreto é capaz de realizar grandes feitos e direciona o mercado da construção civil ao futuro, considerando que com ele existe facilidade para alcançar estruturas que estão submersas, subterrâneas, e até mesmo as de difícil acesso como pontes e barragens. Tudo isso torna sua aplicação extremamente variada e ilimitada, sendo seu único desafio e obstáculo o barateamento de seu processo, já que a forma convencional chega a ser 40% mais acessível economicamente.
Respirando aliviados
Viu como é interessante e tranquilizante saber que existe sim um futuro muito melhor para o concreto em nosso planeta? Mesmo que essa mudança seja feita de forma mais lenta, ela já está ocorrendo. Tanto na escolha do Bioconcreto ou do Concreto sustentável, é possível realizar essa mudança super necessária, já que com ela o meio ambiente, as instituições sociais envolvidas na coleta de materiais e as construtoras e incorporadoras, saem ganhando, sendo garantida a responsabilidade social e a manutenção da qualidade das construções. O primeiro passo já foi dado e a grande expectativa é de que, com os avanços das pesquisas, a redução de custos dos produtos e a conscientização do próprio mercado da construção civil sejam realizadas e ampliadas para as construções do mundo inteiro.